Proto-História
Ao longo de todo o I milénio a.C., mercê de favoráveis factores hidro-orográficos, veremos surgir no Noroeste Peninsular uma singular cultura tipificada no seu peculiar habitat e arcaísmo das suas formas, polarizado em redor de povoados fortificados, ocupando os cimos de outeiros e esporões alcantilados, vulgarmente chamados de castros.
Daqui advém a designação de «Cultura Castreja», que será, porventura, um dos mais particulares e interessantes fenómenos de humanização da paisagem, de que o concelho de Lousada não é alheio.
Com filiação neste período, isto é, com comprovada ocupação entre a Idade do Bronze Final e as primeiras décadas do século I d.C., são actualmente conhecidos no polígono concelhio dezasseis povoados, sendo o castro de São Domingos (Cristelos) o que mais se destaca, por um lado, pelo seu forte impacte visual na paisagem circundante, por outro, pelo seu aparato defensivo com quatro cinturas de muralhas, o que traduz-se numa superfície ocupacional que ronda os 16 hectares.
Os dados actualmente disponíveis possibilitam contabilizar em Lousada cinco povoados com ocupação do Bronze Final, a saber: o Alto dos Três Caminhos e Chã de Bouça das Cales, localizados na bacia hidrográfica do rio Sousa; Cabeço da Agrela, Alto das Cadeiras e Castro dos Mortórios, localizados na bacia hidrográfica do rio Mezio. O próprio Castro de São Domingos, com evidente ocupação pelo menos a partir do século IV a.C., poderá possuir um substrato neste período de alteração “cultural decorrente da introdução da metalurgia nesta região”.
- Ponta de seta recolhida no Cabeço da Agrela (Lustosa)
Um considerável número de povoados fortificados, com provável origem na Idade do Ferro, surge representado um pouco por toda a área geográfica do concelho. Destes, destacam-se pela sua imponência e localização estratégica de dominação da paisagem os seguintes povoados: Castro do Alto de Nevogilde (Nevogilde), Alto do Pinouco (Aveleda), Castro do Bacelo (Torno), Castro de Meinedo (Meinedo) e Castro de Pias (Pias), Monte Felgueiras (Caíde de Rei), Castro de São Gonçalo, localizado em lugar meeiro entre as freguesias de Lustosa (Lousada) e Raimonda, do vizinho concelho de Paços de Ferreira e, por fim, o Castro de São Domingos.
- Castro de São Domingos (Cristelos). Perspectiva do quadrante Oeste
Este povoado fortificado é detentor de quatro panos de muralhas e um fosso a Norte. Trata-se, sem dúvida, do maior e mais expressivo assentamento proto-histórico do concelho de Lousada. Foram aqui realizadas as primeiras escavações arqueológicas no Verão de 1994, tendo-se desenrolado ininterruptamente até 1999, tendo sido colocado a descoberto a quase totalidade de um “núcleo habitacional castrejo” e parte de um outro que lhe fica contíguo. O primeiro merece realce, pois revelou uma casa de planta circular de cobertura a colmo, com o característico pátio circundado por dois pequenos muros curvilíneos, vulgarmente conhecidos por “braços de caranguejo” ou “tipo pinça”, voltados para um pátio aberto e lajeado, dando acesso a outras dependências de que se destaca um provável forno e uma estrutura de planta quadrangular, com uma cronologia de finais do século I a.C., que aproveitou uma parcela do pano da cintura de muralha e do muro de delimitação do núcleo para se apoiar.
- Vista parcial do Sector II do castro de São Domingos (Cristelos)
No sopé do povoado, passava uma via romana, considerada estruturante para o território, que provinha de Bracara Augusta (Braga) e se dirigia para Tongobriga (Freixo-Marco de Canaveses) com passagem por Magneto (Meinedo-Lousada). Este terá sido também um dos factores que levaram à permanência continuada no tempo deste povoado que terá evoluído talvez como pequeno vicus.